Pedro Martins*
O discurso e uma parte da prática do desenvolvimento sustentável estão incorporados no seio de organizações privadas de grande escalão. Gestores de negócios e de comunicação dessas empresas sabem na ponta do lápis que investir em sustentabilidade é uma ação poderosa para agregar valor às marcas. Foi por esse viés que foi conduzido o Encontro Latino Americano de Comunicação e Sustentabilidade, organizado pela agência de notícias Envolverde, durante os dias 16, 17 e 18 de Outubro, em São Paulo.
O setor privado nacional se estruturou de tal maneira em torno da questão ambiental que é difícil num primeiro momento encontrar problemas que possam se transformar em pautas jornalísticas que contestem as práticas das organizações.
Visando principalmente os profissionais de comunicação como público alvo, o objetivo do evento era justamente debater uma possível mudança de paradigmas necessária para a sustentabilidade econômica dos negócios, obviamente, levando em conta critérios de responsabilidade social e ambiental. Ou seja, o Triple Botton Line (social, econômico e ambiental), conceito que desde 2005 funciona como critério para a compra e venda de ações no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bovespa.
Se o meio ambiente virou moeda de troca ou se é somente um pretexto para empresas fazerem marketing em torno de produtos e serviços não é mais a questão dentro desse círculo de profissionais, incluindo-se aí jornalistas, como Amélia Gonzalez, editora do caderno Razão Social do jornal O Globo, que crêem ser ineficaz cair num maniqueísmo. Por esse motivo, ela reforça que “estar bem informado é essencial para o jornalista”.
Convidada a falar na mesa redonda com o tema “A energia na mídia”, Amélia fez algumas reflexões acerca do papel do jornalista nesse cenário em que há verdadeiras muralhas para controlar as informações. Apostar em estratégias para captar grupos “micro-políticos” foi uma das idéias levantadas durante a fala dinâmica de vinte e poucos minutos.
Provocações
De um modo geral, os diálogos não causavam polêmica, nem entre os participantes e nem no público. Houve algumas exceções, porém. Foi o caso da explanação de João Meirelles, diretor do Instituto Peabiru, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) que trabalha com projetos na Amazônia. “Ridículo” e “água com açúcar” foram os adjetivos que utilizou para classificar um acordo com redes de Super Mercado que Caio Magri, do Instituto Ethos, havia acabado de anunciar para a platéia.
Crítico ferrenho da pecuária bovina extensiva (prática corriqueira utilizada para abastecer os mercados do sudeste de carne, mas que destrói mais de cinqüenta por cento da floresta devido às pastagens), Meirelles defende uma mudança brusca no padrão de consumo de parte da população como forma de amenizar impactos na Amazônia.
Outra apresentação que atraiu a atenção dos espectadores foi a do ilustre Ignacy Sachs, que defendeu “uma mudança no sentido de uma sociedade ‘biocivilizatória’”, baseada na produção a partir de elementos da biomassa terrestre, que envolveria uma gama mais ampla de produtos extraídos da natureza, entre eles, combustíveis limpos. “Estamos sentados sobre velhos paradigmas”, afirmava.
Mudanças?
Enquanto Sachs defendia essa “mudança de paradigmas civilizatórios”, do outro lado, Nelson Cabral, representante da Petrobras, apresentava dados objetivos: a estatal investe 0,5% do faturamento em energias alternativas.
E com a descoberta novas bacias de gás e petróleo, como o enaltecido Pré-Sal, a matriz energética nacional continua sendo um combustível fóssil.
Após três dias intensos de conversações no Encontro Latino Americano de Comunicação, o fluxo de conhecimentos e informações, sem dúvida, foi de alto nível. Como os próprios convidados mencionavam, não existe “receita” para chegar ao desenvolvimento sustentável e, muito menos para diminuir as desigualdades sociais.
* Pedro Martins é integrante do Núcleo de Jornalismo Ambiental de Santos e Região.
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